segunda-feira, 27 de agosto de 2007

P/ 2os ANOS- APOSTILA BARROCO

APOSTILA SOBRE BARROCO

O Barroco foi um período estilístico e filosófico da História da sociedade ocidental, ocorrido desde meados do século XVI até ao século XVIII. Foi inspirado no fervor religioso e na passionalidade da Contra-reforma. Didaticamente falando, o Período Barroco, vai de 1580 a 1756.
O termo Barroco advém da palavra portuguesa homónima que significa "pérola imperfeita", ou por extensão jóia falsa. A palavra foi rapidamente introduzida nas línguas francesa e italiana.

BARROCO- traz idéia de oposição, contraste de idéias, antíteses, paradoxos.

OS OPOSTOS MAIS COMUNS NO BARROCO: matéria x espírito; bem x mal; amor x ódio; pecado x pureza; razão x religiosidade; teocentrismo (deus como centro social) x antropocentrismo (homen como centro das idéias); paganismo x fé; leveza x exagero; pecado x divindade (virginal); carne x alma; dentre outros opostos de idéias.

FATOS HISTÓRICOS MAIS IMPORTANTES NO PERÍODO BARROCO:

- Fim do ciclo das grandes navegações portuguesas, ampliando novos países na busca de novas colônias (Espanha, Itália, Inglaterra, Holanda, França, etc).
- Reforma Protestante, por Calvino e Martinho Lutero que não concordavam com a cobrança de indulgências (tributos da Igreja Católica), e também aprovavam a ascensão da classe burguesa e o capitalismo.
- Contra-Reforma, iniciada pela Igreja Católica (principalmente na Espanha e Portugal), conjunto de medidas para não perder a força da Igreja, e com conseqüência as Missões Jesuítas.
- Período do ciclo do açúcar no Brasil, principalmente no litoral nordestino, classe econômica baseada na casa-grande, senzala, alguns vilarejos, poucas cidades grandes. As maiores no Nordeste: Salvador (capital do Brasil na época); Recife e Olinda.

O período barroco

O ano de 1580 é significativo, marcado pela morte de Camões (e com ela, a decadência do movimento clássico), e pelo fim da autonomia política de Portugal, com o desaparecimento do rei D. Sebastião, na África, sendo que o seu sucessor foi Felipe II de Espanha, que anexou o reino português a seus domínios.
O capitólio político passou a ser Madrid, tendo Portugal perdido, além do seu foco político, o seu foco cultural. No século que se seguiu (século XVII), a influência predominante passou a ser a espanhola que se tornou marcante na cultura portuguesa e durante este mesmo período, brotam aos olhos da Espanha uma riquíssima geração de escritores, como Gôngora, Quevedo, Cervantes, Lopes de Vega e Calderón além de muitos outros.
Em 1640, Portugal inicia sua empreitada na reconquista de sua posição no cenário europeu, libertando-se do domínio espanhol, após D. João IV, da dinastia de Bragança, subir ao trono. Até 1668, muitas lutas correram, contra a Espanha, na defesa da independência e contra os holandeses, em busca de recuperar as colônias da África Ocidental e parte do Brasil.
Este foi um período de intensa agitação social, com esforços permanentes em busca do restabelecimento da vida econômica, política e cultural. Publicaram-se várias obras panfletárias clandestinas, que denotavam posição contrária a corrupção do Estado e a exploração do povo. A mais famosa e significativa é a Arte de Furtar, cuja autoria está atribuída desde 1941 ao Padre Manuel da Costa e é hoje praticamente incontestada (vide a indispensável edição crítica da obra por Roger Bismut, Imprensa Nacional, 1991).
Marquês de Pombal, ministro do rei D.José, subiu ao poder em 1750, com propostas renovadoras, que inauguraram uma nova fase na história cultural portuguesa. Em 1756, a Arcádia Lusitana demarcou o início de novas concepções literárias.
No Brasil, o período foi marcado por novas diretrizes na política de colonização, e estabeleceram-se engenhos de cana-de-açúcar na Bahia. Salvador, como capital do Brasil, transformou-se em um núcleo populacional importante, e como consequência, um centro cultural que, mesmo timidamente, fez surgir grandes figuras, como Gregório de Matos. O Barroco Brasileiro teve início em 1601, tendo como obra significativa, Prosopopéia, de Bento Teixeira, terminando com as obras de Cláudio Manuel da Costa, em 1768 , uma introdução ao Neoclassicismo .
Arte barroca
Embora tenha o Barroco assumido diversas características ao longo de sua história, seu surgimento está intimamente ligado à Contra-Reforma. A arte barroca procura comover intensamente o espectador. Nesse sentido, a Igreja converte-se numa espécie de espaço cênico, num teatro sacrum onde são encenados os dramas.
O Barroco é o estilo da Reforma católica também denominada de Contra-Reforma. Arquitetura, escultura, pintura, todas as belas artes, serviam de expressão ao Barroco nos territórios onde ele floresceu: a Espanha, a Itália, Portugal, os países católicos do centro da Europa e a América Latina.
O catolicismo barroco também impregnou a literatura, e uma das suas manifestações mais importantes e impressionantes foram os "autos sacramentais", peças teatrais de argumento teológico, reflexo do espírito espanhol do século XVII, e que eram muito apreciados pelo grande público, o que denota o elevado grau de instrução religiosa do povo.
Contrariamente à arte do Renascimento, que pregava o predomínio da razão sobre os sentimentos, no Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas.
Além da temática religiosa, os temas mitológicos e a pintura que exaltava o direito divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo Estado Nacional Absolutista que se consolidava) também eram freqüentes.
De certa maneira, assistimos a uma retomada do espírito religioso e místico da Idade Média, numa espécie de ressurgimento da visão teocêntrica do mundo. E não é por acaso que a arte barroca nasce em Roma, a capital do catolicismo.
A escola literária barroca é marcada pela presença constante da dualidade. Antropocentrismo versus teocentrismo, céu versus inferno, entre outras constantes.
Contudo, não há como colocar o Barroco simplesmente como uma retomada do fervor cristão. A sua grande diferença do período medieval é que agora o homem, depois do Renascimento, tem consciência de si e vê que também tem seu valor - com exemplos em estudos de anatomia e avanços científicos o homem deixa de colocar tudo nas mãos de Deus.
O Barroco caracteriza-se, portanto, num período de dualidades; num eterno jogo de poderes entre divino e humano, no qual não há mais certezas. A dúvida é que rege a arte deste período. E nas emoções o artista vê uma ponte entre os dois mundos, assim, tenta desvenda-las em suas representações.

Barroco Mineiro

Incentivado pela descoberta do ouro, estende-se por todo o país o gosto pelo barroco. Enquanto a Europa começava a desenvolver o Neoclassicismo, no século XVIII a arte colonial mineira não absorvia as mudanças e mantinha um barroco tardio e, por sua defasagem com o resto do mundo, tinha suas características singulares.
Minas Gerais, sendo um estado do Interior do Brasil, sofria as dificuldades de importação de materiais e técnicas construtivas. Estas características deram ao barroco mineiro um caráter peculiar e possibilitaram a criação de uma arte diferenciada, regionalista.
As características culturais e urbanas do povo mineiro, organizado em vilas, crendo em diversos santos, possibilitaram uma forma de expressão única, mesclada, muito mais do que somente pelo gosto artistico, com o estilo de vida, tornando estreito o relacionamento da arte com a fé e com a população, por meio da vivência e da visualização destes aspectos.
Muitos artistas trabalharam com as condições materiais da região, adaptando a arte ao modo de vida. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manuel da Costa Ataíde simbolizam claramente esta arte adaptada ao ambiente de um país tropical, ligando sua arte aos recursos e valores regionais. Ao trabalhar na Igreja de São Francisco de Assis, Aleijadinho substitui o mármore europeu pela pedra-sabão, Ataíde se baseia no "azulejo português" para criar suas pinturas. Absorvendo estes aspectos, o barroco desenvolvido em Minas Gerais ganha expressão particular no contexto brasileiro, firmando-se como um barroco peculiar, chamado de Barroco Mineiro.
Um exemplo clássico, que pode ser usado no estudo do Barroco Mineiro, são as igrejas mineiras construidas neste período que vai de 1710 a 1760.

GREGÓRIO DE MATOS

Nascido numa família de proprietários rurais, empreiteiros de obras e funcionários administrativos (seu pai era natural de Guimarães, Portugal). De facto, a nacionalidade de Gregório de Matos é portuguesa, na medida em que o Brasil só se tornou independente no século XIX.
Em 1642 estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Em 1650 continua os seus estudos em Lisboa e, em 1652, na Universidade de Coimbra onde se forma em Cânones, em 1661. Em 1663 é nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que é "puro de sangue", como determinavam as normas jurídicas da época.
Em 27 de Janeiro de 1668 teve a função de representar a Bahia nas cortes de Lisboa. Em 1672, o Senado da Câmara da Bahia outorga-lhe o cargo de procurador. A 20 de Janeiro de 1674 é, novamente, representante da Bahia nas cortes. É, contudo, destituído do cargo de procurador.
Em 1679 é nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça para Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. D. Pedro II nomeia-o em 1682 tesoureiro-mor da Sé, um ano depois de ter tomado ordens menores. Em 1683 volta ao Brasil.


Frontispício de edição de 1775 dos poemas de Gregório
O novo arcebispo, frei João da Madre de Deus destitui-o dos seus cargos por não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções de que o tinham incumbido.
Começa, então, a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais bahianas (a que chamará "canalha infernal"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados.
Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta português Tomás Pinto Brandão.
Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia denuncia os seus costumes livres ao tribunal da Inquisição (acusa-o, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça quando passa uma procissão). A acusação não tem seguimento.
Entretanto, as inimizades vão crescendo em relação direta com os poemas que vai concebendo. Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho), e correndo o risco de ser assassinado é deportado para Angola.
Como recompensa de ter ajudado o governo local a combater uma conspiração militar, recebe a permissão de voltar ao Brasil, ainda que não possa voltar à Bahia. Morre em Recife, com uma febre contraída em Angola.
Alcunha
A alcunha boca do inferno foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a cidade da Bahia, como nesse poema:
A cada canto um grande conselheiro.
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.
Em 1850, o historiador Francisco Adolfo Varnhagen publicou 39 dos seus poemas na colectânea Florilégio da Poesia Brasileira (em Lisboa).
Afrânio Peixoto editou a restante obra, de 1923 a 1933, em seis volumes a cargo da Academia Brasileira de Letras, excepto a parte pornográfica que aparecerá publicada, por fim, em 1968, por James Amado.
A sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época, além de chocar pelo teor erótico, de alguns de seus versos.
Entre seus grandes poemas está o "A cada canto um grande conselheiro", onde critica os governantes da "cidade da Bahia" de sua época. Esta crítica é, no entanto, intemporal e universal - os "grandes conselheiros" não são mais que os indivíduos (políticos ou não) que "nos quer(em) governar cabana e vinha, não sabem governar sua cozinha, mas podem governar o mundo inteiro". A figura do "grande conselheiro" é a figura do hipócrita que aponta os pecados dos outros, sem olhar aos seus. Em resumo, é aquele que aconselha mas não segue os seus preceitos.

Descrevo que era Realmente Naquele Tempo a Cidade da Bahia
A cada canto um grande conselheiro,
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.
Epigrama
Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.
Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.
Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha
Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.
E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.
O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.
A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA E OUTROS TEXTOS

TEXTOS COMPLEMENTARES SOBRE LITERATURA DE INFORMAÇÃO P/ 2o ANOS

A Carta, de Pero Vaz de Caminha

Edição de base:
Carta a El Rei D. Manuel, Dominus : São Paulo, 1963.

Senhor,

posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os

pilotos devem ter este cuidado.

E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:

E digo quê:

A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.

Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser !

Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais !

E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.

Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!

Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.

E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.

Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram.

E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

À noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus. E especialmente a Capitaina. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar ancoras e fazer vela. E fomos de longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados na popa, em direção norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nós ficássemos, para tomar água e lenha. Não por nos já minguar, mas por nos prevenirmos aqui. E quando fizemos vela estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam juntado ali aos poucos. Fomos ao longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem.

E velejando nós pela costa, na distância de dez léguas do sítio onde tínhamos levantado ferro, acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. E as naus foram-se chegando, atrás deles. E um pouco antes de sol-pôsto amainaram também, talvez a uma légua do recife, e ancoraram a onze braças.

E estando Afonso Lopez, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, foi, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meter-se logo no esquife a sondar o porto dentro. E tomou dois daqueles homens da terra que estavam numa almadia: mancebos e de bons corpos. Um deles trazia um arco, e seis ou sete setas. E na praia andavam muitos com seus arcos e setas; mas não os aproveitou. Logo, já de noite, levou-os à Capitaina, onde foram recebidos com muito prazer e festa.

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de

dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no aliencaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.

Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerra da, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.

O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele íamos, sentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a

fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!

Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.

Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.

Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.

Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.

Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.

Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo.

Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que lho não havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhas dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de encobrir suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas.

O Capitão mandou pôr por baixo da cabeça de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e consentindo, aconchegaram-se e adormeceram.

Sábado pela manhã mandou o Capitão fazer vela, fomos demandar a entrada, a qual era mui larga e tinha seis a sete braças de fundo. E entraram todas as naus dentro, e ancoraram em cinco ou seis braças -- ancoradouro que é tão grande e tão formoso de dentro, e tão seguro que podem ficar nele mais de duzentos navios e naus. E tanto que as naus foram distribuídas e ancoradas, vieram os capitães todos a esta nau do Capitão-mor. E daqui mandou o Capitão que Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias fossem em terra e levassem aqueles dois homens, e os deixassem ir com seu arco e setas, aos quais mandou dar a cada um uma camisa nova e uma carapuça vermelha e um rosário de contas brancas de osso, que foram levando nos braços, e um cascavel e uma campainha. E mandou com eles, para lá ficar, um mancebo degredado, criado de dom João

Telo, de nome Afonso Ribeiro, para lá andar com eles e saber de seu viver e maneiras. E a mim mandou que fosse com Nicolau Coelho. Fomos assim de frecha direitos à praia. Ali acudiram logo perto de duzentos homens, todos nus, com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levamos acenaram-lhes que se afastassem e depusessem os arcos. E eles os depuseram.

Mas não se afastaram muito. E mal tinham pousado seus arcos quando saíram os que nós levávamos, e o mancebo degredado com eles. E saídos não pararam mais; nem esperavam um pelo outro, mas antes corriam a quem mais correria. E passaram um rio que aí corre, de água doce, de muita água que lhes dava pela braga. E muitos outros com eles. E foram assim correndo para além do rio entre umas moitas de palmeiras onde estavam outros. E ali pararam. E naquilo tinha ido o degredado com um homem que, logo ao sair do batel, o agasalhou e levou até lá. Mas logo o tornaram a nós. E com ele vieram os outros que nós leváramos, os quais vinham já nus e sem carapuças.

E então se começaram de chegar muitos; e entravam pela beira do mar para os batéis, até que mais não podiam. E traziam cabaças d'água, e tomavam alguns barris que nós levávamos e enchiam-nos de água e traziam-nos aos batéis. Não que eles de todo chegassem a bordo do batel. Mas junto a ele, lançavam-nos da mão. E nós tomávamo-los. E pediam que lhes dessem alguma coisa.

Levava Nicolau Coelho cascavéis e manilhas. E a uns dava um cascavel, e a outros uma manilha, de maneira que com aquela encarna quase que nos queriam dar a mão. Davam-nos daqueles arcos e setas em troca de sombreiros e carapuças de linho, e de qualquer coisa que a gente lhes queria dar.

Dali se partiram os outros, dois mancebos, que não os vimos mais. Dos que ali andavam, muitos -- quase a maior parte --traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau, que pareciam

espelhos de borracha. E alguns deles traziam três daqueles bicos, a saber um no meio, e os dois nos cabos.

E andavam lá outros, quartejados de cores, a saber metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, um tanto azulada; e outros quartejados d'escaques.

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.

Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbana deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenamos-lhes que se fossem. E assim o fizeram e passaram-se para além do rio. E saíram três ou quatro homens nossos dos batéis, e encheram não sei quantos barris d'água que nós levávamos. E tornamo-nos às naus. E quando assim

vínhamos, acenaram-nos que voltássemos. Voltamos, e eles mandaram o degredado e não quiseram que ficasse lá com eles, o qual levava uma bacia pequena e duas ou três carapuças vermelhas para lá as dar ao senhor, se o lá houvesse. Não trataram de lhe tirar coisa alguma, antes mandaram-no com tudo. Mas então Bartolomeu Dias o fez outra vez tornar, que lhe

desse aquilo. E ele tornou e deu aquilo, em vista de nós, a aquele que o da primeira agasalhara. E então veio-se, e nós levamo-lo.

Esse que o agasalhou era já de idade, e andava por galanteria, cheio de penas, pegadas pelo corpo, que parecia seteado como São Sebastião. Outros traziam carapuças de penas amarelas; e outros, de vermelhas; e outros de verdes. E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela.

Nenhum deles era fanado, mas todos assim como nós. E com isto nos tornamos, e eles foram-se.

À tarde saiu o Capitão-mor em seu batel com todos nós outros capitães das naus em seus batéis a folgar pela baía, perto da praia. Mas ninguém saiu em terra, por o Capitão o não querer, apesar de ninguém estar nela. Apenas saiu -- ele com todos nós -- em um ilhéu grande que está na baía, o qual, aquando baixamar, fica mui vazio. Com tudo está de todas as partes cercado de água, de sorte que ninguém lá pode ir, a não ser de barco ou a nado. Ali folgou ele, e todos nós, bem uma hora e meia. E pescaram lá, andando alguns marinheiros com um chinchorro; e mataram peixe miúdo, não muito. E depois volvemo-nos às naus, já bem noite.

Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa,

segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do
Evangelho. Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.

Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar pé.

Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta. Embarcamos e fomos indo todos em direção à terra para passarmos ao longo por onde eles estavam, indo na dianteira, por ordem do Capitão, Bartolomeu Dias em seu esquife, com um pau de uma almadia que lhes o mar levara, para o entregar a eles. E nós todos trás dele, a distância de um tiro de pedra.

Como viram o esquife de Bartolomeu Dias, chegaram-se logo todos à água, metendo-se nela até onde mais podiam.

Acenaram-lhes que pousassem os arcos e muitos deles os iam logo pôr em terra; e outros não os punham.

Andava lá um que falava muito aos outros, que se afastassem. Mas não já que a mim me parecesse que lhe tinham respeito ou medo. Este que os assim andava afastando trazia seu arco e setas. Estava tinto de tintura vermelha pelos peitos e costas e pelos quadris, coxas e pernas até baixo, mas os vazios com a barriga e estômago eram de sua própria cor. E a tintura era tão

vermelha que a água lha não comia nem desfazia. Antes, quando saía da água, era mais vermelho. Saiu um homem do esquife de Bartolomeu Dias e andava no meio deles, sem implicarem nada com ele, e muito menos ainda pensavam em fazer-lhe mal.

Apenas lhe davam cabaças d'água; e acenavam aos do esquife que saíssem em terra. Com isto se volveu Bartolomeu Dias ao Capitão. E viemo-nos às naus, a comer, tangendo trombetas e gaitas, sem os mais constranger. E eles tornaram-se a sentar na praia, e assim por então ficaram.

Neste ilhéu, onde fomos ouvir missa e sermão, espraia muito a água e descobre muita areia e muito cascalho. Enquanto lá estávamos foram alguns buscar marisco e não no acharam. Mas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande e muito grosso; que em nenhum tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de berbigões e de amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira. E depois de termos comido vieram logo todos os capitães a esta nau, por ordem do Capitão-mor, com os quais ele se aportou; e eu na companhia. E perguntou a todos se nos parecia bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos, para a melhor mandar descobrir e saber dela mais do que nós podíamos saber, por irmos na nossa viagem.

E entre muitas falas que sobre o caso se fizeram foi dito, por todos ou a maior parte, que seria muito bem. E nisto concordaram. E logo que a resolução foi tomada, perguntou mais, se seria bem tomar aqui por força um par destes homens para os mandar a Vossa Alteza, deixando aqui em lugar deles outros dois destes degredados.

E concordaram em que não era necessário tomar por força homens, porque costume era dos que assim à força levavam para alguma parte dizerem que há de tudo quanto lhes perguntam; e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dois homens desses degredados que aqui deixássemos do que eles dariam se os levassem por ser gente que ninguém entende.

Nem eles cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor estoutros o não digam quando cá Vossa Alteza mandar. E que portanto não cuidássemos de aqui por força tomar ninguém, nem fazer escândalo; mas sim, para os de todo amansar e apaziguar, unicamente de deixar aqui os dois degredados quando daqui partíssemos.

E assim ficou determinado por parecer melhor a todos. Acabado isto, disse o Capitão que fôssemos nos batéis em terra. E ver-se-ia bem, quejando era o rio. Mas também para

folgarmos. Fomos todos nos batéis em terra, armados; e a bandeira conosco. Eles andavam ali na praia, à boca do rio, para onde nós íamos; e, antes que chegássemos, pelo ensino que dantes tinham, puseram todos os arcos, e acenaram que saíssemos. Mas, tanto que os batéis puseram as proas em terra, passaram-se logo todos além do rio, o qual não é mais ancho que um jogo de

mancal. E tanto que desembarcamos, alguns dos nossos passaram logo o rio, e meteram-se entre eles. E alguns aguardavam; e outros se afastavam. Com tudo, a coisa era de maneira que todos andavam misturados. Eles davam desses arcos com suas setas por sombreiros e carapuças de linho, e por qualquer coisa que lhes davam. Passaram além tantos dos nossos e andaram assim misturados com eles, que eles se esquivavam, e afastavam-se; e iam alguns para cima, onde outros estavam. E então o Capitão fez que o tomassem ao colo dois homens e passou o rio, e fez tornar a todos. A gente que ali estava não seria mais que aquela do costume. Mas logo que o Capitão chamou todos para trás, alguns se chegaram a ele, não por o reconhecerem por Senhor, mas porque a gente, nossa, já passava para aquém do rio. Ali falavam e traziam muitos arcos e continhas, daquelas já ditas, e resgatavam-nas por qualquer coisa, de tal maneira que os nossos levavam dali para as naus muitos arcos, e setas e contas.

E então tornou-se o Capitão para aquém do rio. E logo acudiram muitos à beira dele. Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.

Também andava lá outra mulher, nova, com um menino ou menina, atado com um pano aos peitos, de modo que não se lhe viam senão as perninhas. Mas nas pernas da mãe, e no resto, não havia pano algum.

Em seguida o Capitão foi subindo ao longo do rio, que corre rente à praia. E ali esperou por um velho que trazia na mão uma pá de almadia. Falou, enquanto o Capitão estava com ele, na presença de todos nós; mas ninguém o entendia, nem ele a nós, por mais coisas que a gente lhe perguntava com respeito a ouro, porque desejávamos saber se o havia na terra.

Trazia este velho o beiço tão furado que lhe cabia pelo buraco um grosso dedo polegar. E trazia metido no buraco uma pedra verde, de nenhum valor, que fechava por fora aquele buraco. E o Capitão lha fez tirar. E e le não sei que diabo falava e ia com ela para a boca do Capitão para lha meter. Estivemos rindo um pouco e dizendo chalaças sobre isso. E então enfadou-se o Capitão, e deixou-o. E um dos nossos deu-lhe pela pedra um sombreiro velho; não por ela valer alguma coisa, mas para amostra. E depois houve-a o Capitão, creio, para mandar com as outras coisas a Vossa Alteza.

Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos muitos deles.

Depois tornou-se o Capitão para baixo para a boca do rio, onde tínhamos desembarcado. E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais montezes, e foram-se para cima.

E então passou o rio o Capitão com todos nós, e fomos pela praia, de longo, ao passo que os batéis iam rentes à terra. E chegamos a uma grande lagoa de água doce que está perto da praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai a água por muitos lugares.

E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles meter-se entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. E levaram dali um tubarão que Bartolomeu Dias matou. E levavam-lho; e lançou-o na praia.

Bastará que até aqui, como quer que se lhes em alguma parte amansassem, logo de uma mão para outra se esquivavam, como pardais do cevadouro. Ninguém não lhes ousa falar de rijo para não se esquivarem mais. E tudo se passa como eles querem -- para os bem amansarmos !

Ao velho com quem o Capitão havia falado, deu-lhe uma carapuça vermelha. E com toda a conversa que com ele houve, e com a carapuça que lhe deu tanto que se despediu e começou a passar o rio, foi-se logo recatando. E não quis mais tornar do rio para aquém. Os outros dois o Capitão teve nas naus, aos quais deu o que já ficou dito, nunca mais aqui apareceram -- fatos de que deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e muito limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montezinhas, as quais o ar faz melhores penas e melhor cabelo que às mansas, porque os seus corpos são tão limpos e tão gordos e tão formosos que não pode ser mais! E isto me faz presumir que não tem casas nem moradias em que se recolham; e o ar em que se criam os faz tais. Nós pelo menos não vimos até agora nenhumas casas, nem coisa que se pareça com elas.

Mandou o Capitão aquele degredado, Afonso Ribeiro, que se fosse outra vez com eles. E foi; e andou lá um bom pedaço, mas a tarde regressou, que o fizeram eles vir: e não o quiseram lá consentir. E deram-lhe arcos e setas; e não lhe tomaram nada do seu. Antes, disse ele, que lhe tomara um deles umas continhas amarelas que levava e fugia com elas, e ele se queixou e os outros foram logo após ele, e lhas tomaram e tornaram-lhas a dar; e então mandaram-no vir. Disse que não vira lá entre eles senão umas choupaninhas de rama verde e de feteiras muito grandes, como as de Entre Douro e Minho. E assim nos tornamos às naus, já quase noite, a dormir.

Segunda-feira, depois de comer, saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos; mas não tantos como as outras vezes. E traziam já muito poucos arcos. E estiveram um pouco afastados de nós; mas depois pouco a pouco misturaram-se conosco; e abraçavam-nos e folgavam; mas alguns deles se esquivavam logo. Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha velha e por qualquer coisa. E de tal maneira se passou a coisa que bem vinte ou trinta pessoas das nossas se foram com eles para onde outros muitos deles estavam com moças e mulheres. E trouxeram de lá muitos arcos e barretes de penas de aves, uns verdes, outros amarelos, dos quais creio que o Capitão há de mandar uma amostra a Vossa Alteza.

E segundo diziam esses que lá tinham ido, brincaram com eles. Neste dia os vimos mais de perto e mais à nossa vontade, por andarmos quase todos misturados: uns andavam quartejados daquelas tinturas, outros de metades, outros de tanta feição como em pano de ras, e todos com os beiços furados, muitos com os ossos neles, e bastantes sem ossos. Alguns traziam uns

ouriços verdes, de árvores, que na cor queriam parecer de castanheiras, embora fossem muito mais pequenos. E estavam cheios de uns grãos vermelhos, pequeninos que, esmagando-se entre os dedos, se desfaziam na tinta muito vermelha de que andavam tingidos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam.

Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos.

E o Capitão mandou aquele degredado Afonso Ribeiro e a outros dois degredados que fossem meter-se entre eles; e assim mesmo a Diogo Dias, por ser homem alegre, com que eles folgavam. E aos degredados ordenou que ficassem lá esta noite.

Foram-se lá todos; e andaram entre eles. E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. E como se fazia tarde

fizeram-nos logo todos tornar; e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo diziam, queriam vir com eles.

Resgataram lá por cascavéis e outras coisinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos, muito grandes e formosos, e dois verdes pequeninos, e carapuças de penas verdes, e um pano de penas de muitas cores, espécie de tecido assaz belo, segundo Vossa Alteza todas estas coisas verá, porque o Capitão vo-las há de man dar, segundo ele disse. E com isto vieram; e nós tornamo-nos às naus.

Terça-feira, depois de comer, fomos em terra, fazer lenha, e para lavar roupa. Estavam na praia, quando chegamos, uns sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegamos, vieram logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto conosco que uns nos ajudavam a acarretar lenha e metê-las nos batéis. E lutavam com os nossos, e tomavam com prazer. E enquanto fazíamos a lenha, construíam dois carpinteiros uma grande cruz de um pau que se ontem para isso cortara. Muitos deles vinham ali estar com os carpinteiros. E creio que o faziam mais para verem a ferramenta de ferro com que a faziam do que para verem a cruz, porque eles não tem coisa que de ferro seja, e cortam sua madeira e paus com pedras feitas como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, mui bem atadas e por tal maneira que andam fortes, porque lhas viram lá. Era já a conversação deles conosco tanta que quase nos estorvavam no que havíamos de fazer.

E o Capitão mandou a dois degredados e a Diogo Dias que fossem lá à aldeia e que de modo algum viessem a dormir às naus, ainda que os mandassem embora. E assim se foram.

Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra. Todavia os que vi não seriam mais que nove ou dez, quando muito. Outras aves não vimos então, a não ser algumas pombas-seixeiras, e pareceram-me maiores bastante do que as de Portugal. Vários diziam que viram rolas, mas eu não as vi. Todavia segundo os arvoredos são mui muitos e grandes, e de infinitas espécies, não duvido que por esse sertão haja muitas aves!

E cerca da noite nós volvemos para as naus com nossa lenha. Eu creio, Senhor, que não dei ainda conta aqui a Vossa Alteza do feitio de seus arcos e setas. Os arcos são pretos e compridos, e as setas compridas; e os ferros delas são canas aparadas, conforme Vossa Alteza verá alguns que creio que o Capitão a Ela há de enviar.

Quarta-feira não fomos em terra, porque o Capitão andou todo o dia no navio dos mantimentos a despejá-lo e fazer levar às naus isso que cada um podia levar. Eles acudiram à praia, muitos, segundo das naus vimos. Seriam perto de trezentos, segundo Sancho de Tovar que para lá foi. Diogo Dias e Afonso Ribeiro, o degredado, aos quais o Capitão ontem ordenara que de toda maneira lá dormissem, tinham voltado já de noite, por eles não quererem que lá ficassem. E traziam papagaios verdes; e outras aves pretas, quase como pegas, com a diferença de terem o bico branco e rabos curtos. E quando Sancho de Tovar recolheu à nau, queriam vir com ele, alguns; mas ele não admitiu senão dois mancebos, bem dispostos e homens de prol. Mandou pensar e curá-los mui bem essa noite. E comeram toda a ração que lhes deram, e mandou dar-lhes cama de

lençóis, segundo ele disse. E dormiram e folgaram aquela noite. E não houve mais este dia que para escrever seja. Quinta-feira, derradeiro de abril, comemos logo, quase pela manhã, e fomos em terra por mais lenha e água. E em querendo o Capitão sair desta nau, chegou Sancho de Tovar com seus dois hóspedes. E por ele ainda não ter comido, puseram-lhe toalhas, e veio-lhe comida. E comeu. Os hóspedes, sentaram-no cada um em sua cadeira. E de tudo quanto lhes deram,

comeram mui bem, especialmente lacão cozido frio, e arroz. Não lhes deram vinho por Sancho de Tovar dizer que o não bebiam bem. Acabado o comer, metemo-nos todos no batel, e eles conosco. Deu um grumete a um deles uma armadura grande de porco montês, bem revolta. E logo que a tomou meteu-a no beiço; e porque se lhe não queria segurar, deram-lhe uma pouca de

cera vermelha. E ele ajeitou-lhe seu adereço da parte de trás de sorte que segurasse, e meteu-a no beiço, assim revolta para cima; e ia tão contente com ela, como se tivesse uma grande jóia. E tanto que saímos em terra, foi-se logo com ela. E não tornou a aparecer lá.

Andariam na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e de aí a pouco começaram a vir. E parece-me que viriam este dia a praia quatrocentos ou quatrocentos e cinqüenta. Alguns deles traziam arcos e setas; e deram tudo em troca de carapuças e por qualquer coisa que lhes davam. Comiam conosco do que lhes dávamos, e alguns deles bebiam vinho, ao passo que outros o não podiam beber. Mas quer-me parecer que, se os acostumarem, o hão de beber de boa vontade! Andavam todos tão bem dispostos e tão bem feitos e galantes com suas pinturas que agradavam. Acarretavam dessa lenha quanta podiam, com mil boas vontades, e levavam-na aos batéis. E estavam já mais mansos e seguros entre nós do que nós estávamos entre eles.

Foi o Capitão com alguns de nós um pedaço por este arvoredo até um ribeiro grande, e de muita água, que ao nosso parecer é o mesmo que vem ter à praia, em que nós tomamos água. Ali descansamos um pedaço, bebendo e folgando, ao longo dele, entre esse arvoredo que é tanto e tamanho e tão basto e de tanta qualidade de folhagem que não se pode calcular. Há lá muitas palmeiras, de que colhemos muitos e bons palmitos.

Ao sairmos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos em direitura à cruz que estava encostada a uma árvore, junto ao rio, a fim de ser colocada amanhã, sexta-feira, e que nos puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. E a esses dez ou doze que lá estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e logo foram todos beijá-la.

Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na

nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!

Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.

Nesse dia, enquanto ali andavam, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como se fossem mais amigos nossos do que nós seus. Se lhes a gente acenava, se queriam vir às naus, aprontavam-se logo para isso, de modo tal, que se os convidáramos a todos, todos vieram. Porém não levamos esta noite às naus senão quatro ou cinco; a saber, o Capitão-mor, dois; e Simão de Miranda, um que já trazia por pagem; e Aires Gomes a outro, pagem também. Os que o Capitão trazia, era um deles um dos seus hóspedes que lhe haviam trazido a primeira vez quando aqui chegamos -- o qual veio hoje aqui vestido na sua camisa, e com ele um seu irmão; e foram esta noite mui bem agasalhados tanto de comida como de cama, de colchões e lençóis, para os mais amansar.

E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E

quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.

Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos! Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.

Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos -- um a um -- ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado -- era já bem uma hora depois do meio dia -- viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez

muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras. E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.

Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior -- com respeito ao pudor.

Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação. Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer.

Creio, Senhor, que, com estes dois degredados que aqui ficam, ficarão mais dois grumetes, que esta noite se saíram em terra, desta nau, no esquife, fugidos, os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui porque de manhã, prazendo a Deus fazemos nossa partida daqui.

Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa. Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!

Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé! E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe.

Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê.

Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Pero Vaz de Caminha.

NUPILL - Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística



Diário de Navegação de Pêro Lopes e Sousa (fragmento)

"Terça-feira, 31 do dito mês (janeiro), no quarto d'alva, vimos terra, que nos demorava a oeste: chegando-nos mais a ela houvemos vista de uma nau; e demos as velas todas, e a fomos demandar: e mandou o Capitão I dois navios na volta do Norte - na volta em que a nau ia, e outros dois na volta do Sul: a nau como se viu cercada arribou à terra, e a meia légua dela surgiu, e lançou o batel fora. Como fomos dela um tiro de bombarda se meteu a gente toda no batel e fugiu para a terra. Mandou o Capitão I a Diogo Leite, capitão da caravela Princesa, que fosse com seu batel após o batel da nau: quando já chegou à terra, era já a gente metida pela terra dentro, e o batel quebrado. Fomos à nau e nela não achamos mais que um só homem; tinha muita artilharia e pólvora, e estava toda abarrotada de brasil. Ao meio-dia nos fizemos a vela para ir demandar o cabo de Santo Agostinho: seríamos dele seis léguas. Tomamos esta nau de França defronte ao cabo de Percaauri; corre-se com o cabo de Santo Agostinho norte e sul, tomada quarta de noroeste e sueste. Da banda do sul do cabo de Santo Agostinho achamos outra nau de França, que tomamos carregada de Brasil."

LITERATURA DE INFORMAÇÃO - 2o ANOS

Literatura de informação

O homem europeu do século XVI, especificamente o português, tinha duas preocupações distintas: uma material, resultante da política das Grandes Navegações e que visava o lucro decorrente da exploração das terras recém descobertas; e outra espiritual, resultante do movimento da contra-reforma, ou seja, da tentativa de a Igreja Católica reconquistar os indivíduos que se converteram ao protestantismo.

Essas duas preocupações básicas fizeram com que a literatura feita no Brasil naquele período se manifestasse de duas formas: a primeira, de caráter puramente informativo, conhecida como literatura de informação, levava a Portugal as novidades sobre as riquezas do Brasil; já a segunda, de aspecto doutrinário, também conhecida literatura dos jesuístas, voltada para a catequese do povo indígena.
A literatura de informação:


Em seu primeiro século de "vida" o Brasil foi visitado por muitos viajantes e missionários europeus. Muitos deles colheram informações sobre a terra e seus habitantes. Esses relatos, por possuírem pouca importância literária, estão relacionados a crônica histórica e, por isso, são classificados como literatura de informação ou como literatura dos cronistas e viajantes. A primeira e mais importante dessas obras foi a Carta de Pêro Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, endereçada a el-rei Rei D. Manuel. Nela Caminha mostra claramente as duas preocupações que atormentavam o povo português da época, ou seja, a conquista de bens materiais e o aumento do número de fiéis adeptos ao Catolicismo.

Além de Pêro Vaz de Caminha, outros viajantes também relataram a sua impressão sobre a nova terra e seus habitantes. As obras e autores que merecem destaque são os seguintes:

Diário de Navegação (1530) de Pêro Lopes e Sousa, escrivão do grupo colonizador liderado por Martim Afonso de Sousa;

Tratato da Terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos de Brasil (1576) de Pêro Magalhães de Gândavo;
Tratado Descritivo do Brasil (1587) de Gabriel Soares de Souza;
Os Diálogos das Grandezas do Brasil (1618) de Ambrósio Fernandes Brandão.



Pêro Vaz de Caminha
(1437-1500)

DADOS BIOGRÁFICOS
Pero Vaz de Caminha nasceu, por volta de 1437, provavelmente no Porto. Foi escrivão da armada de Cabral e da feitoria de Calecute que os portugueses posteriormente fundaram na Índia. Morreu na Índia em 1500, trucidado por comerciantes mouros.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

Sua Carta, o mais vivo e colorido retrato do Brasil primitivo, possui catorze páginas manuscritas e data de 1º de maio de 1500. Foi publicada pela primeira vez em 1817, havendo atualmente edições modernas e, devido a sua importância histórica, já foi traduzida para várias línguas. Dirigida a D. Manuel, narra o descobrimento do Brasil, as primeiras impressões da frota de Cabral sobre a terra, seus habitantes e as providências tomadas.

Em forma de crônica de viagem, gênero largamente utilizado em Portugal e Espanha no século XV, e numa linguagem fluente e de transparente singeleza, Caminha relata o que viu. As descrições, pormenorizadas, de certos eventos ou coisas revelam, no autor, um aguçado senso de observação e expõem uma clara ideologia mercantilista. Ao valorizar a flora e a fauna do território recém descoberto, aponta ao colonizador e aos aventureiros marítimos suas possíveis riquezas e vantagens. Sem deixar de lado o ideal português de propagação da cristandade, Caminha descreve o índío como um ser bom, natural, ingênuo, saudável e pronto para aceitar os valores da civilização cristã.


Pêro Lopes de Sousa (1497 - 1539)

Pêro Lopes de Sousa, irmão Martim Afonso de Sousa, nasceu em Lisboa no ano de 1497. Filho de família nobre, viveu na corte toda sua infância e juventude. Ainda jovem tornou-se navegador e em dezembro de 1530 parte, juntamente com o irmão, em missão ordenada pelo rei D. João III para explorar terras brasileiras. Em 1532, decide voltar a Portugal. Na viagem de volta enfrenta e aprisiona dois navios franceses em Pernambuco. Essa aventura lhe rendeu cinqüenta léguas de terras no litoral do Brasil, oferecidas pela Coroa portuguesa.

Em 1539, ocupando o posto de capitão-mor de uma esquadra de seis navios, parte de Lisboa para à Índia. Na viagem de volta, naufraga em São Lourenço, perto de Madagascar, e seu corpo desaparece no mar.


Literatura de informação



No primeiro século em que o Brasil passou a figurar nos mapas ocidentais (século XVI) não se desenvolveu aqui propriamente literatura de ficção, uma vez que os portugueses estavam iniciando o processo de colonização e era-lhes mais útil uma literatura documental, isto é, era preciso primeiro descrever e registrar a nova terra e os costumes dos ameríndios, a fim de colonizar o Novo Mundo. O primeiro desses documentos foi a carta escrita por Pero Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel. Outros seis textos merecem destaque pela influência não só na época como também posteriormente, fornecendo material à literatura indianista - que veremos adiante - e também à revisão da História oficial brasileira que empreenderam, sobretudo, os modernistas de 1922. São eles:


> Diário de Navegação - Pero Lopes de Sousa, 1532;

> Diálogo sobre a conversão dos gentios - Pe. Manuel da Nóbrega, sem data;

> Cartas do Brasil e mais escritos - Pe. Manuel da Nóbrega, 1549;

> Tratado da Terra do Brasil - Pero Magalhães Gândavo.

> Histórias da Província da Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil - Pero Magalhães Gândavo, 1576;

> Tratado descritivo do Brasil - Gabriel Soares de Sousa, de 1587.


De modo geral, os cronistas procuraram mostrar uma visão edênica da nova terra, fazendo referências às riquezas materiais, além de justificarem a colonização da terra e dos nativos pelo viés religioso:


(...) como o interesse seja o que mais leva os homens trás si que outra nenhuma cousa que haja na vida, parece manifesto querer entretê-los na terra com esta riqueza do mar, até chegarem a descobrir aquelas minas que a mesma terra promete, pera que assi desta maneira tragam ainda toda aquela cega bárbara gente habita nestas partes, ao lume e conhecimento da nossa Santa Fé Católica, que será descobrir-lhes outras maiores no céu a qual nosso Senhor permite que assim seja pera glória sua e salvação de tantas almas.


Além desta literatura informativa, desenvolveu-se uma outra com fins catequéticos ou simplesmente de efusão religiosa. Caso mais célebre é o do Pe. José de Anchieta, famoso pelos poemas dirigidos à Virgem Maria e também pelo seu teatro religioso. De qualquer modo, não se pode falar em literatura propriamente dita, ainda mais especificamente brasileira. Mesmo porque, Anchieta escreveu seus textos em latim, em tupi e em português.

Eis um trecho do "Poema da Virgem", em latim:


De compassione et planctu virginis in morte filli
Mens mea, quid tanto torpes absorpta sopore?
Quid stertis somno desidiosa gravi?
Nec te cura movet lacrimabilis ulIa parentis,
Funera quæ nati flet truculenta sui?
Viscera cui duro tabescunt ægra dolore,
Vulnera dum præsens, quæ tulit ilIe, videt.


Um dos seus poemas mais conhecidos é "A Santa Inês", do qual retiramos duas estrofes. Perceba-se o apelo popular dos versos, escritos em quadra e com cinco sílabas poéticas (redondilha menor):


Cordeirinha linda,
Como folga o povo
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo!
Cordeirinha santa,
De Iesu querida,
Vossa santa vinda
O diabo espanta.

DICAS P/ BOA REDAÇÃO

Dicas
Índice
O que não se deve fazer numa redação
Gostaria de saber se é coveniente colocar um subtítulo. Quando podemos usar aspas no título?
Como estudar em pouco tempo para um concurso em que haja redação?
Temas metafóricos
Como usar o gerúndio?
O que não se deve fazer numa redação
• Começar usando palavras contidas no tema, como fazíamos na 1ª série da tia Teteca;
• Começar os parágrafos com as mesmas palavras, para ficar estético;
• Descuidar das margens e alinhamento dos parágrafos, inspirando-se em produções impressionistas;
• Usar períodos muito longos e cheios de informações intercaladas em outras, para complicar a vida do pobre corretor de sua redação;
• Entrar em desespero e arrancar os poucos cabelos ainda existentes;
• Rasurar, usar corretivos ou fazer aquele remendinho discreto como o carro dos Bombeiros;
• Dar uma de esperto, fazendo uma introdução copiando a seguinte frase, original e inédita: " O qualquer coisa é um fenômeno ambíguo", por não achar que existe outra maneira;
• Usar aqueles chamados lugares-comuns para começar a bendita conclusão, inspirando-se, quem sabe, naquele carrinho velho que só pegava no tranco;
• Explicar tão explicadinho cada detalhe que as benditas 30 linhas sejam poucas para o seu testamento (não se esqueça daquela doação para a profª de redação e português);
• Confundir os estilos, construindo um primor da Literatura Brasileira com uma dissertação um pouco narrativa, descrevendo um fato;
• Achar que não tem assunto para tratar aquele tema, complicando o que é simples, só para valorizar mais o curso e os seus professores (o corpo docente agradece a homenagem, mas dispensa);
• Ficar uma hora para decidir sobre qual estilo e tema vai escrever, optando pelo unidunitê, em vez de fazer a melhor escolha para você mesmo.
Gostaria de saber se é coveniente colocar um subtítulo. Quando podemos usar aspas no título?
Em redação, deve-se usar o título como um chamariz para o texto em si. Para isso, é importante a criatividade e, sobretudo, a adequação do título ao texto, daí ser recomendado o acréscimo somente ao final do processo de escrita.
Quanto ao uso de subtítulo, não conhecemos referências claras a esse respeito, mas a experiência favorece que indiquemos um título conciso e instigante, no máximo com uma proposta, dois pontos e um desdobramento. Por exemplo: Escravidão: um mal sob os grilhões do trabalho infantil.
No que diz respeito ao emprego de aspas, somente para casos indicativos desses sinais de pontuação: citações e estrangeirismos.
Como estudar em pouco tempo para um concurso em que haja redação?
Para ajuda em redação, recomendo leitura intensiva de hoje até a data da prova. Mas nesse momento não se pode sair lendo por ler. Selecione recortes de jornal com notícias que tratem de questões atuais e não locais com tema de educação, cultura, do país em geral. Evite questões em relação à política ou partidos. Diante das notícias faça duas atividades: resuma o assunto com suas palavras e depois emita parecer pessoal acerca do assunto. Com essa atividade, você pode desenvolver três habilidades: coesão (síntese do assunto), informatividade e desenvolvimento da escrita em si.
Para técnicas de escrita, expressões de transição e dicas em geral, consulte o site www.graudez.com.br na parte de redação.
Temas metafóricos
Muitas vezes, os temas propostos para uma redação não apresentam explicitamente um assunto a ser abordado. Diante dessa situação, exige-se do candidato mais do que a técnica redacional e o domínio da língua em sua modalidade formal. O poder de abstração e a criatividade passam a ser instrumentos necessários nesse tipo de temática.
Não se pode pensar, entretanto, que tais habilidades são atributos genéticos. O desenvolvimento desse raciocínio criativo é um trabalho que depende de prática e, principalmente, do empenho do candidato.
Vamos observar alguns temas desse tipo e como o assunto pode ser extraído a partir de uma análise mais criteriosa.
O que fazer diante do tema “Como sempre o mordomo é o culpado”?
Com certeza, não era para o candidato contar a história de seu tio-avô que foi inclusive demitido quando era mordomo numa casa de janotas!
As palavras dizem mais nas entrelinhas que se pode imaginar. O advérbio “sempre” foi associado a um julgamento humano: culpa do mordomo. É possível generalizar as atitudes das pessoas?
Observe ainda a posição sócio-econômica de um mordomo. Pensando em termos mais conotativos, o que representaria o mordomo numa estrutura social capitalista como a nossa?
Diante dessas considerações puramente reflexivas e simples, pode-se depreender duas estratégias de abordagem para o tema:
• questão das minorias injustiçadas
• prejulgamento e preconceito
Agora você já pode discorrer sobre o assunto e até propor outra estratégia. O tema é seu !!
Como usar o gerúndio?
O emprego do gerúndio é considerado tão problemático que alguns escritores fazem esforços para nunca empregá-lo. Podem-se observar, no entanto, alguns princípios norteadores do uso dessa forma nominal.
O gerúndio constitui uma oração subordinada de caráter adverbial e, de certo modo, também possui uma função adjetiva. Para ter um emprego claro, o gerúndio deve estar o mais perto possível do sujeito ao qual se refere. Assim, Vi teu primo nadando não é o mesmo que Nadando, vi teu primo.
O bom emprego do gerúndio traz significados distintos.
• Gerúndio modal: Chegou cantando.
• Gerúndio temporal. Indica contemporaneidade entre a ação expressa pelo verbo principal e o gerúndio: Vi João passeando.
• Gerúndio durativo: Ficou escrevendo sua redação.
• Gerúndio cuja ação é imediatamente anterior à do verbo principal: Levantando o peso, deixou-o cair sobre o pé.
• Gerúndio condicional: Tendo sido publicada a lei, obedeça-se!
• Gerúndio causal: Conhecendo sua maneira de agir, não acreditei no que me disseram.
• Gerúndio concessivo: Nevando muito, não iria à festa.
• Gerúndio explicativo: Vendo que o leme não funcionava, o comandante chamou o mecânico.
Alguns empregos do gerúndio devem ser evitados.
• Quando as ações expressas pelos dois verbos - gerúndio e verbo principal não puderem ser simultâneas: Chegou sentando-se. ou: Machado de Assis nasceu no Aio, estudando com um amigo padre na infância.
• Quando o gerúndio expressa qualidades e não comporta a idéia de contemporaneidade: Vi um jardim florescendo.
• Quando a ação expressa pelo gerúndio é posterior à do verbo principal: O assaltante fugiu, sendo detido duas horas depois. Seria melhor dizer: O assaltante fugiu e foi detido duas horas depois.
• Quando o gerúndio, copiando construção francesa (galicismo), passa a ter valor puramente de adjetivo: Viu uma caixa contendo... A construção mais adequada seria: Viu uma caixa que continha...
Como regra geral, pode-se dizer que o gerúndio está bem-empregado quando:
• há predominância do caráter verbal ou adverbial;
• caráter durativo da ação está claro;
• a ação expressa é coexistente ou imediatamente anterior à ação principal.
O uso do gerúndio será tão mais impróprio quanto mais se aproxime da função adjetiva, ou da expressão de qualidades ou estados, ou quanto maior a distância entre o tempo da ação expressa por ele e o tempo da ação do verbo principal.

MATERIAL AULÃO DISSERTAÇÃO- 3o ANOS

Professora Irana Costa
Turmas 01, 02, 03 e 04
04/08/2007

Dissertação
Índice
Introdução
Estrutura textual
Planejamento
Qualidades de uma dissertação
O que é dissertação
Partes de uma dissertação
Evitar numa dissertação
Exemplo de texto dissertativo
Introdução
A folha em branco, o tempo passando. As unhas roídas, o tema dado e nenhuma idéia. Muitas pessoas já passaram por uma situação semelhante, em que não sabiam absolutamente por onde começar a escrever sobre determinado assunto.
Escrever pode ser fácil para qualquer pessoa, desde que esta queira se empenhar para tanto. Não há mágicas ou fórmulas práticas para aprender a escrever. Na verdade, é um trabalho que depende sobremaneira do empenho do interessado em aprender.
Para este intento, algumas dicas práticas podem ser dadas para auxiliar, mas nada substitui a necessidade de escrever sempre. O ato da escrita deve se tornar algo natural, a fim de afastar o fantasma do “branco total”. Além disso, a leitura e a atualização de informações também colaboram muito na qualidade do texto.
O objetivo da redação é chegar a um texto que será tão repleto de escolhas pessoais (idéias, palavras, estruturas frasais, organização, exemplos) que, até partindo de um mesmo assunto geral, milhares de pessoas podem chegar a um bom resultado apresentando trabalhos nitidamente diferentes.
Para desenvolver esse trabalho, a presente apostila direciona-se ao estudo dissertativo. Será considerada uma média de trinta linhas para as redações, sobretudo no tocante à distribuição destas linhas nas subdivisões textuais apresentadas
Muitas vezes, as maiores dificuldades estão na concretização das idéias no papel. Para auxiliar neste processo, a apostila conta também com um suporte de Língua Portuguesa. A preocupação aqui não é de nomenclaturas ou classificações, o que teve relevo foi a funcionalidade lingüística no momento da escrita.
Alguns pontos merecem destaque especial para um aprimoramento da escrita:
• ler mais
• adquirir o hábito de escrever
• pontuar adequadamente
• organizar idéias
• construir períodos mais curtos
Estrutura textual
Assunto
Delimitar um aspecto acerca do tema proposto é importante para uma boa abordagem do assunto. Não se poderá fazer uma análise aprofundada se o tema for amplo, por isso especifica-se o assunto a ser tratado.
A escolha do aspecto, entretanto, não pode restringir demais o tema ou corre-se o risco da falta de idéias.
Essa delimitação deve ser feita na introdução e, a partir daí, o leitor sabe que aquele aspecto será explorado no decorrer do texto e a conclusão fará menção direta a ele.
Observe alguns exemplos:
• televisão - a violência na televisão / a televisão e a opinião pública
• a vida nas grandes cidades - a vida social dos jovens nas grandes cidades / os problemas das grandes cidades
• preconceitos - preconceitos raciais / causas do preconceito racial
• progresso - vantagens e desvantagens sociais do progresso / progresso e evolução humana
Agora delimite 3 aspectos que poderiam ser abordados acerca dos seguintes temas:
• modernidade
• esporte
• comunicação de massa
Parágrafos
São blocos de texto, cuja primeira linha inicia-se em margem especial, maior do que a margem normal do texto. Concentram sempre uma idéia-núcleo relacionada diretamente ao tema da redação.
Não há moldes rígidos para a construção de um parágrafo. O ideal é que em cada parágrafo haja dois ou três períodos, usando pontos continuativos (na mesma linha) intermediários.
A divisão em parágrafos é indicativa de que o leitor encontrará, em cada um deles, um tópico do que o autor pretende transmitir. Essa delimitação deve estar esquematizada desde antes do rascunho, no momento do planejamento estrutural, assim a redação apresentará mais coerência.
Planejamento
Escrever não significa apenas preencher o papel com frases, mas também não se constitui num martírio. Um texto pressupõe simples operações anteriores, entre as quais está o planejamento.
Assim que se recebe uma proposta de redação, uma série de idéias sobre o assunto vêm à cabeça. Deve-se registrar todos os pensamentos no papel. Fatos, informações, opiniões, um caso que aconteceu na sua rua, tudo deve ser anotado em forma de esquema. Não deve ser preocupação, nessa fase, a ordenação dessas idéias.
Esta primeira fase, denominada fluxo de idéias, é fundamental para a execução da redação. Muitas idéias anotadas talvez nem sejam utilizadas depois, enquanto outras idéias podem surgir adiante.
É claro que as idéias não vão aparecer do nada. Elas fazem parte de um repertório de opiniões, fatos, informações a que se está exposto todos os dias.
Partindo desse conjunto desordenado de idéias, pode-se perceber a possibilidade de agrupá-las segundo certas semelhanças. Uma divisão possível seria em causas, conseqüências e soluções.
Dica para captação de idéias: relacionar o tema proposto com a sociedade brasileira atual e fazer a pergunta “por quê” a cada argumento levantado, a fim de promover uma reflexão mais profunda sobre o assunto.
Lembrar-se de que, ao redigir, não se deve esquecer de:
• anotar todas as idéias, frases, palavras, sensações que surgirem sobre o tema;
• fazer uma seleção das idéias que surgiram;
• pensar num plano para o texto, estruturando-o em introdução, desenvolvimento e conclusão;
• revisar no rascunho, ao final, a grafia das palavras, a pontuação das frases e a eufonia das palavras usadas, assim como a adequação vocabular ao contexto.
Com o planejamento abaixo, produza uma dissertação:
• o acesso ao ensino superior no Brasil
• papel do vestibular no sistema de ensino brasileiro
• vantagens e desvantagens do vestibular como mecanismo de seleção ao curso superior
• solução para o desequilíbrio entre oferta e demanda de vagas no ensino superior
Qualidades de uma dissertação
O texto deve ser sempre bem claro, conciso e objetivo. A coerência é um aspecto de grande importância para a eficiência de uma dissertação, pois não deve haver pormenores excessivos ou explicações desnecessárias. Todas as idéias apresentadas devem ser relevantes para o tema proposto e relacionadas diretamente a ele.
A originalidade demonstra sua segurança e faz um diferencial em meio aos demais textos. Só não se pode, em aspecto nenhum, abandonar o tema proposto.
Toda redação deve ter início, meio e fim, que são designados por introdução, desenvolvimento e conclusão, respectivamente. As idéias distribuem-se de forma lógica, sem haver fragmentação da mesma idéia em vários parágrafos.
Elementos de coesão: Algumas palavras e expressões facilitam a ligação entre as idéias, estejam elas num mesmo parágrafo ou não. Não é obrigatório, entretanto, o emprego destas expressões para que um texto tenha qualidade. Seguem algumas sugestões e suas respectivas relações:
• assim, desse modo - têm valor exemplificativo e complementar. A seqüência introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar e complementar o que se disse anteriormente.
• ainda - serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão; ou para incluir um elemento a mais dentro de um conjunto de idéias qualquer.
• aliás, além do mais, além de tudo, além disso - introduzem um argumento decisivo, apresentado como acréscimo. Pode ser usado para dar um “golpe final” num argumento contrário.
• mas, porém, todavia, contudo, entretanto... (conj. adversativas) - marcam oposição entre dois enunciados.
• embora, ainda que, mesmo que - servem para admitir um dado contrário para depois negar seu valor de argumento, diminuir sua importância. Trata-se de um recurso dissertativo muito bom, pois sem negar as possíveis objeções, afirma-se um ponto de vista contrário.
• este, esse e aquele - são chamados termos anafóricos e podem fazer referência a termos anteriormente expressos, inclusive para estabelecer semelhanças e/ou diferenças entre eles.
Reescreva os fragmentos a seguir, fazendo as adaptações necessárias para uma perfeita compreensão da idéia apresentada.
• No Brasil não se sente uma necessidade de ajudar o próximo muito forte
• Todos devem escolher o que mais lhes agrada e não a sociedade.
• A imprensa é mais uma realização do homem que sofreu, desde a sua descoberta, gradativos aperfeiçoamentos.
O que é dissertação
Dissertar é um ato praticado pelas pessoas todos os dias. Elas procuram justificativas para a elevação dos preços, para o aumento da violência nas cidades, para a repressão dos pais. É mundial a preocupação com a bomba atômica, a AIDS, a solidão, a poluição. Muitas vezes, em casos de divergência de opiniões, cada um defende seus pontos de vista em relação ao futebol, ao cinema, à música.
A vida cotidiana traz constantemente a necessidade de exposição de idéias pessoais, opiniões e pontos de vista. Em alguns casos, é preciso persuadir os outros a adotarem ou aceitarem uma forma de pensar diferente. Em todas essas situações e em muitas outras, utiliza-se a linguagem para dissertar, ou seja, organizam-se palavras, frases, textos, a fim de, por meio da apresentação de idéias, dados e conceitos, chegar-se a conclusões.
Em suma, dissertação implica discussão de idéias, argumentação, organização do pensamento, defesa de pontos de vista, descoberta de soluções. É, entretanto, necessário conhecimento do assunto que se vai abordar, aliado a uma tomada de posição diante desse assunto.
Argumentação
A base de uma dissertação é a fundamentação de seu ponto de vista, sua opinião sobre o assunto. Para tanto, deve-se atentar para as relações de causa-conseqüência e pontos favoráveis e desfavoráveis, muito usadas nesse processo.
Algumas expressões indicadoras de causa e conseqüência
• causa : por causa de, graças a, em virtude de, em vista de, devido a, por motivo de
• conseqüência : conseqüentemente, em decorrência, como resultado, efeito de
Algumas expressões que podem ser usadas para abordar temas com divergência de opiniões: em contrapartida, se por um lado... / por outro... , xxx é um fenômeno ambíguo, enquanto uns afirmam... / outros dizem que...
Exemplo de argumentação para a tese de que as abelhas são insetos extraordinários:
• porque tem instinto muito apurado
• porque são organizadas em repúblicas disciplinadas
• porque fornecem ao homem cera e mel
• apesar de seus ferrões e de sua força quando constituem um enxame

Observação
mesmo quando se destacam características positivas, é bom utilizar ponto negativo. Neste caso, destaca-se que a importância dos pontos positivos minimizam a negatividade do outro argumento.
Pratique levantando argumentos para os seguintes temas:
• Orfandade
• Escravidão ontem e hoje

Observação
lembre-se de que a razão prevalece sobre a emoção sempre em dissertações
Determine causas e conseqüências para o analfabetismo no Brasil e consumo de tóxicos pelos jovens .
Partes de uma dissertação
Introdução
Constitui o parágrafo inicial do texto e deve ter, em média, 5 linhas. É composta por uma sinopse do assunto a ser tratado no texto. Não se pode, entretanto, começar as explicações antes do tempo. Todas as idéias devem ser apresentadas de forma sintética, pois é no desenvolvimento que serão detalhadas.
A construção da introdução pode ser feita de várias maneiras:
• constatação do problema
Ex.: O aumento progressivo dos índices de violência nos grandes centros urbanos está promovendo uma mobilização político-social.
• delimitação do assunto
Ex.: A cidade do Rio de Janeiro, um dos núcleos urbanos mais atrativos turisticamente no Brasil, aparece nos meios de comunicação também como foco de violência urbana.
• definição do tema
Ex.: Como um dos mais problemáticos fenômenos sociais, a violência está mobilizando não só o governo brasileiro, mas também toda a população num esforço para sua erradicação.
Na construção da introdução, a utilização de um dos métodos apresentados não seria suficiente. Deve-se, num segundo período, lançar as idéias a serem explicitadas no desenvolvimento. Para tanto pode-se levantar 3 argumentos, causas e conseqüências, prós e contras. Lembre-se de que as explicações e respectivas fundamentações de cada uma dessas idéias cabem somente ao desenvolvimento.
Observe alguns exemplos:
• A televisão - Se por um lado esse popular veículo de comunicação pode influenciar o espectador, também se constitui num excelente divulgador de informações com potencial até mesmo pedagógico.
(as três idéias: manipulador de opiniões, divulgador de informações e instrumento educacional.)
• Escassez de energia elétrica - Destacam-se como fatores preponderantes para esse processo o aumento populacional e a má distribuição de energia que podem acarretar novo racionamento.
(as três idéias: crescimento da população e da demanda de energia, problemas com distribuição da energia gerada no Brasil e a conseqüência do racionamento do uso de energia)
• A juventude e a violência - Pode-se associar esse crescimento da violência com o número de jovens envolvidos com drogas e sem orientações familiares, o que gera preconceito em relação a praticantes de esportes de luta e “funkeiros”
Desenvolvimento
Esta segunda parte de uma redação, também chamada de argumentação, representa o corpo do texto. Aqui serão desenvolvidas as idéias propostas na introdução. É o momento em que se defende o ponto de vista acerca do tema proposto. Deve-se atentar para não deixar de abordar nenhum item proposto na introdução.
Pode estar dividido em 2 ou 3 parágrafos e corresponde a umas 20 linhas, aproximadamente.
A abordagem depende da técnica definida na introdução: 3 argumentos, causas e conseqüências ou prós e contras. O conceito de argumento é importante, pois ele é a base da dissertação. Causa, conseqüência, pró, contra são todos tipos de argumentos; logo pode-se apresentar 3 causas, por exemplo, num texto.
A reflexão sobre o tema proposto não pode ser superficial, para aprofundar essa abordagem buscam-se sempre os porquês. De modo prático o procedimento é:
Levantar os argumentos referentes ao tema proposto.
Fazer a pergunta por quê? a cada um deles, relacionando-o diretamente ao tema e à sociedade brasileira atual.
A distribuição da argumentação em parágrafos depende, também, da técnica adotada:
• 3 argumentos - um parágrafo explica cada um dos argumentos
• causas e conseqüências - podem estar distribuídas em 2 ou 3 parágrafos. Ou agrupam-se causas e conseqüências, constituindo 2 parágrafos; ou associa-se uma causa a uma conseqüência e com cada grupo constroem-se 2 ou 3 parágrafos.
• prós e contras - são as mesmas opções da técnica de causas e conseqüências, substituídas por prós e contras
• abordagem histórica - compara-se o antes e o hoje, elucidando os motivos e conseqüências dessas transformações. Cuidado com dados como datas, nomes etc. de que não se tenha certeza.
• abordagem comparativa - usam-se duas idéias centrais para serem relacionadas no decorrer do texto. A relação destacada pode ser de identificação, de comparação ou as duas ao mesmo tempo.
É muito importante manter uma abordagem mais ampla, mostrar os dois lados da questão. O texto esquematizado previamente reflete organização e técnica, valorizando bastante a redação. Logo, um texto equilibrado tem mais chances de receber melhores conceitos dos avaliadores, por demonstrar que o candidato se empenhou para construí-lo.
Recurso adicional - para elucidar uma idéia e demonstrar atualização, pode-se apresentar de forma bastante objetiva e breve um exemplo relacionado ao assunto.
Encontre uma causa e uma conseqüência relacionados à proposição abaixo e construa um parágrafo para cada argumento:
• O Brasil tem enfrentado graves problemas na área de saúde e previdência públicas
• A campanha contra a miséria e a fome está mobilizando toda a nação
Indique três causas das proposições a seguir e justifique cada uma através de uma frase
• Precariedade do sistema de transportes
• Alto índice de mortalidade infantil
• Congestionamento nas grandes cidades
Aponte três conseqüências para os temas abaixo e construa um parágrafo fundamentando cada uma.
• Baixo índice de mão-de-obra especializada
• Falta de investimento em tecnologia
• Uso de agrotóxicos
Levante um argumento favorável e um desfavorável para a proposição a seguir. Construa um parágrafo envolvendo suas idéias.
• As greves dos trabalhadores em relação à sociedade e à nação
Conclusão
Representa o fecho do texto e vai gerar a impressão final do avaliador. Deve conter, assim como a introdução, em torno de 5 linhas.
Pode-se fazer uma reafirmação do tema e dar-lhe um fecho ou apresentar possíveis soluções para o problema apresentado.
Apesar de ser um parecer pessoal, jamais se inclua.
Evite começar com palavras e expressões como: concluindo, para finalizar, conclui-se que, enfim...
Evitar numa dissertação
Após o título de uma redação não coloque ponto.
Ao terminar o texto, não coloque qualquer coisa escrita ou riscos de qualquer natureza. Detalhe: não precisa autografar no final também, e ainda assim será uma obra-prima.
Prefira usar palavras de língua portuguesa a estrangeirismos.
Não use chavões, provérbios, ditos populares ou frases feitas.
Não use questionamentos em seu texto, sobretudo em sua conclusão.
Jamais usar a primeira pessoa do singular, a menos que haja solicitação do tema (Ex.: O que você acha sobre o aborto - ainda assim, pode-se usar a 3ª pessoa)
Evite usar palavras como “coisa” e “algo”, por terem sentido vago. Prefira: elemento, fator, tópico, índice, item etc.
Repetir muitas vezes as mesmas palavras empobrece o texto. Lance mão de sinônimos e expressões que representem a idéia em questão.
Só cite exemplos de domínio público, sem narrar seu desenrolar. Faça somente uma breve menção.
A emoção não pode perpassar nem mesmo num adjetivo empregado no texto. Atenção à imparcialidade.
Evite o uso de etc. e jamais abrevie palavras
Não analisar assuntos polêmicos sob apenas um dos lados da questão
Exemplo de texto dissertativo
A posição social da mulher de hoje
Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das sociedades de hoje já começam a reconhecer a não existência de distinção alguma entre homens e mulheres. Não há diferença de caráter intelectual ou de qualquer outro tipo que permita considerar aqueles superiores a estas.
Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em inúmeras atividades. Até nas áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão presentes, inclusive em posições de comando. Estão no comércio, nas indústrias, predominam no magistério e destacam-se nas artes. No tocante à economia e à política, a cada dia que passa, estão vencendo obstáculos, preconceitos e ocupando mais espaços.
Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo prisma quantitativo. Convém observar o progressivo crescimento da participação feminina em detrimento aos muitos anos em que não tinham espaço na sociedade brasileira e mundial.
Muitos preconceitos foram ultrapassados, mas muitos ainda perduram e emperram essa revolução de costumes. A igualdade de oportunidades ainda não se efetivou por completo, sobretudo no mercado de trabalho. Tomando-se por base o crescimento qualitativo da representatividade feminina, é uma questão de tempo a conquista da real equiparação entre os seres humanos, sem distinções de sexo.