segunda-feira, 6 de agosto de 2007

LITERATURA DE INFORMAÇÃO - 2o ANOS

Literatura de informação

O homem europeu do século XVI, especificamente o português, tinha duas preocupações distintas: uma material, resultante da política das Grandes Navegações e que visava o lucro decorrente da exploração das terras recém descobertas; e outra espiritual, resultante do movimento da contra-reforma, ou seja, da tentativa de a Igreja Católica reconquistar os indivíduos que se converteram ao protestantismo.

Essas duas preocupações básicas fizeram com que a literatura feita no Brasil naquele período se manifestasse de duas formas: a primeira, de caráter puramente informativo, conhecida como literatura de informação, levava a Portugal as novidades sobre as riquezas do Brasil; já a segunda, de aspecto doutrinário, também conhecida literatura dos jesuístas, voltada para a catequese do povo indígena.
A literatura de informação:


Em seu primeiro século de "vida" o Brasil foi visitado por muitos viajantes e missionários europeus. Muitos deles colheram informações sobre a terra e seus habitantes. Esses relatos, por possuírem pouca importância literária, estão relacionados a crônica histórica e, por isso, são classificados como literatura de informação ou como literatura dos cronistas e viajantes. A primeira e mais importante dessas obras foi a Carta de Pêro Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, endereçada a el-rei Rei D. Manuel. Nela Caminha mostra claramente as duas preocupações que atormentavam o povo português da época, ou seja, a conquista de bens materiais e o aumento do número de fiéis adeptos ao Catolicismo.

Além de Pêro Vaz de Caminha, outros viajantes também relataram a sua impressão sobre a nova terra e seus habitantes. As obras e autores que merecem destaque são os seguintes:

Diário de Navegação (1530) de Pêro Lopes e Sousa, escrivão do grupo colonizador liderado por Martim Afonso de Sousa;

Tratato da Terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos de Brasil (1576) de Pêro Magalhães de Gândavo;
Tratado Descritivo do Brasil (1587) de Gabriel Soares de Souza;
Os Diálogos das Grandezas do Brasil (1618) de Ambrósio Fernandes Brandão.



Pêro Vaz de Caminha
(1437-1500)

DADOS BIOGRÁFICOS
Pero Vaz de Caminha nasceu, por volta de 1437, provavelmente no Porto. Foi escrivão da armada de Cabral e da feitoria de Calecute que os portugueses posteriormente fundaram na Índia. Morreu na Índia em 1500, trucidado por comerciantes mouros.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

Sua Carta, o mais vivo e colorido retrato do Brasil primitivo, possui catorze páginas manuscritas e data de 1º de maio de 1500. Foi publicada pela primeira vez em 1817, havendo atualmente edições modernas e, devido a sua importância histórica, já foi traduzida para várias línguas. Dirigida a D. Manuel, narra o descobrimento do Brasil, as primeiras impressões da frota de Cabral sobre a terra, seus habitantes e as providências tomadas.

Em forma de crônica de viagem, gênero largamente utilizado em Portugal e Espanha no século XV, e numa linguagem fluente e de transparente singeleza, Caminha relata o que viu. As descrições, pormenorizadas, de certos eventos ou coisas revelam, no autor, um aguçado senso de observação e expõem uma clara ideologia mercantilista. Ao valorizar a flora e a fauna do território recém descoberto, aponta ao colonizador e aos aventureiros marítimos suas possíveis riquezas e vantagens. Sem deixar de lado o ideal português de propagação da cristandade, Caminha descreve o índío como um ser bom, natural, ingênuo, saudável e pronto para aceitar os valores da civilização cristã.


Pêro Lopes de Sousa (1497 - 1539)

Pêro Lopes de Sousa, irmão Martim Afonso de Sousa, nasceu em Lisboa no ano de 1497. Filho de família nobre, viveu na corte toda sua infância e juventude. Ainda jovem tornou-se navegador e em dezembro de 1530 parte, juntamente com o irmão, em missão ordenada pelo rei D. João III para explorar terras brasileiras. Em 1532, decide voltar a Portugal. Na viagem de volta enfrenta e aprisiona dois navios franceses em Pernambuco. Essa aventura lhe rendeu cinqüenta léguas de terras no litoral do Brasil, oferecidas pela Coroa portuguesa.

Em 1539, ocupando o posto de capitão-mor de uma esquadra de seis navios, parte de Lisboa para à Índia. Na viagem de volta, naufraga em São Lourenço, perto de Madagascar, e seu corpo desaparece no mar.


Literatura de informação



No primeiro século em que o Brasil passou a figurar nos mapas ocidentais (século XVI) não se desenvolveu aqui propriamente literatura de ficção, uma vez que os portugueses estavam iniciando o processo de colonização e era-lhes mais útil uma literatura documental, isto é, era preciso primeiro descrever e registrar a nova terra e os costumes dos ameríndios, a fim de colonizar o Novo Mundo. O primeiro desses documentos foi a carta escrita por Pero Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel. Outros seis textos merecem destaque pela influência não só na época como também posteriormente, fornecendo material à literatura indianista - que veremos adiante - e também à revisão da História oficial brasileira que empreenderam, sobretudo, os modernistas de 1922. São eles:


> Diário de Navegação - Pero Lopes de Sousa, 1532;

> Diálogo sobre a conversão dos gentios - Pe. Manuel da Nóbrega, sem data;

> Cartas do Brasil e mais escritos - Pe. Manuel da Nóbrega, 1549;

> Tratado da Terra do Brasil - Pero Magalhães Gândavo.

> Histórias da Província da Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil - Pero Magalhães Gândavo, 1576;

> Tratado descritivo do Brasil - Gabriel Soares de Sousa, de 1587.


De modo geral, os cronistas procuraram mostrar uma visão edênica da nova terra, fazendo referências às riquezas materiais, além de justificarem a colonização da terra e dos nativos pelo viés religioso:


(...) como o interesse seja o que mais leva os homens trás si que outra nenhuma cousa que haja na vida, parece manifesto querer entretê-los na terra com esta riqueza do mar, até chegarem a descobrir aquelas minas que a mesma terra promete, pera que assi desta maneira tragam ainda toda aquela cega bárbara gente habita nestas partes, ao lume e conhecimento da nossa Santa Fé Católica, que será descobrir-lhes outras maiores no céu a qual nosso Senhor permite que assim seja pera glória sua e salvação de tantas almas.


Além desta literatura informativa, desenvolveu-se uma outra com fins catequéticos ou simplesmente de efusão religiosa. Caso mais célebre é o do Pe. José de Anchieta, famoso pelos poemas dirigidos à Virgem Maria e também pelo seu teatro religioso. De qualquer modo, não se pode falar em literatura propriamente dita, ainda mais especificamente brasileira. Mesmo porque, Anchieta escreveu seus textos em latim, em tupi e em português.

Eis um trecho do "Poema da Virgem", em latim:


De compassione et planctu virginis in morte filli
Mens mea, quid tanto torpes absorpta sopore?
Quid stertis somno desidiosa gravi?
Nec te cura movet lacrimabilis ulIa parentis,
Funera quæ nati flet truculenta sui?
Viscera cui duro tabescunt ægra dolore,
Vulnera dum præsens, quæ tulit ilIe, videt.


Um dos seus poemas mais conhecidos é "A Santa Inês", do qual retiramos duas estrofes. Perceba-se o apelo popular dos versos, escritos em quadra e com cinco sílabas poéticas (redondilha menor):


Cordeirinha linda,
Como folga o povo
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo!
Cordeirinha santa,
De Iesu querida,
Vossa santa vinda
O diabo espanta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei vc é 1000000000000000000000000000